cheira a nuvens
fragmentos e pensamentos, ideias e meias-conclusões.
sábado, 10 de dezembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
considerações extranacionais, parte I
Há umas semanas encontrei-me com um professor para discutir a nota de um ensaio. Normalmente quando fazemos isto ele começa por me perguntar como me estou a adaptar, e o que há de empatia na maneira como ele faz a pergunta vem do que temos de entendimento entre nós enquanto dois estrangeiros em Espanha. Quer isto dizer que sinto que se lhe fosse a responder que às vezes me enerva como as pessoas não pedem desculpa por nada e falam depressa demais e as piadas de que se riem não têm piada nenhuma, provocar-lhe-ia um riso discreto mas desarmado e um acenar da cabeça compassivo como quem diz “pois é, é para isso que cá andamos”, ou até, “sacanas destes espanhóis…”. Confesso que às vezes me esqueço de que estar num país que não é o teu e onde não dominas a língua ocasionalmente produz situações frustrantes, embora facilmente antecipáveis, que fazem com que exageres na opinião que tens das pessoas com quem lidas a um ponto que não é nem correcto nem inteligente. Mas o importante desta conversa foi que respondi, um pouco sem pensar, que não era muito difícil visto que somos, nós portugueses e eles espanhóis, tão parecidos em tanta coisa. Ao que ele me responde com surpresa que o que ele via de mais evidente eram as diferenças que temos. Que acha os portugueses muito mais contidos que os seus hermanos ibéricos de uma maneira fundamental e que, enquanto alemão, se sente mais à vontade no meio dos contidos que dos explosivos. Recebi o juízo com uma perplexidade que deve ter sido visível porque quem o emitiu disse rapidamente “claro, isto são apenas generalizações”. Não fiquei de todo ofendida, mas sim surpreendida por uma ideia que nunca me teria vindo espontaneamente. Que possamos ser diferentes daqueles com quem mais nos assemelhamos, e se sim, como, e o que significa isso.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Mishima Yukio escreveu: “uma mulher tem mais perspicácia do que um homem para discernir o que há de chocante no desequilíbrio entre as qualidades de espírito e as qualidades físicas de um homem ”, e eu gostaria de subscrever, se não contasse com uma clara predominância masculina nas minhas referências literárias. Aprendi o amor como os homens o vêem e comecei a confundir as duas coisas, numa forma, talvez, de me ver numa melhor luz por fácil e orgulhosa associação. Aceitava mais facilmente a bondade e a ternura de quem achava bonito, onde o que era bom se lhe parecia mais natural. Convenhamos que não é tão poético tocar cabelo áspero ou fazer corar bochechas plenas de crateras hormonais. Reparos como estes não têm de ser unanimemente feios; mas é na consciência da fealdade deles que não faz sentido o amor. Pensava nesta conclusão e dissipavam-se as minhas próprias suspeitas de vaidade. E, de facto, não andava à procura de corpos impossíveis para neles imaginar pessoas extraordinárias. Acontecia que, para melhor ou pior, o que eu via de bom num homem transparecia-lhe nas feições, fazia-me mais feliz quando lhe olhava a cara (e, para que não tenhamos dúvidas do que falamos, queria-o mais). Tudo o que me agradava era um. Se gostava de alguém sem o conhecer seria por lhe adivinhar, nos traços, qualquer coisa que batia certo. Pelo contrário, quando percebia algo de desagradável nas atitudes, deixava de ter interesse físico. Pensar em trocar carícias com alguém do passado mal-amanhado provoca-me ainda um esgar sucedâneo. Só me apercebi deste padrão depois de ler o japonês, e apesar de não coincidir com o grupo social ao qual pertenço, segundo ele, achei-me coerente e correcta e sem razão para me desviar do que até então tinha feito todo o sentido.
segunda-feira, 21 de março de 2011
"also he [hitler] has grasped the falsity of the hedonistic attitude to life. nearly all western thought since the last war, certainly all 'progressive' thought, has assumed tacitly that human beings desire nothing beyond ease, security and avoidance of pain. in such a view of life there is no room, for instance, for patriotism and the military values. hitler, because in his own joyless mind he feels it with exceptional strength, knows that human beings don't only want comfort, safety, short working-hours, hygiene, birth-control and, in general, common-sense; they also, at least intermittently, want struggle and self-sacrifice, not to mention drums, flags and loyalty parades. however they may be as economic theories, fascism and nazism are psychologically far sounder than any hedonistic conception of life."
em the collected essays, journalism and letters of george orwell.
em the collected essays, journalism and letters of george orwell.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
"[...] the mistaken belief in feminist discourse that the only true model of emancipation was the western model of feminism."
"[...] I propose that the fundamental reason why women's veiling is important to the question of women's rights according to Muslim feminists, is because power over the veil represents freedom of choice. In particular, the ability to choose whether to veil or not, in accordance with the Muslim feminist's own personal interpretation of Islamic faith and morality, is at the very heart of what Islam represents to Muslim feminists: the basic Qur'anic ethic of the sovereign right of both women and men as human beings who have the freedom of self-determination."
Rachel Woodlock, Muslim Feminists and the Veil: To veil or not to veil - is that the question? aqui.
"[...] I propose that the fundamental reason why women's veiling is important to the question of women's rights according to Muslim feminists, is because power over the veil represents freedom of choice. In particular, the ability to choose whether to veil or not, in accordance with the Muslim feminist's own personal interpretation of Islamic faith and morality, is at the very heart of what Islam represents to Muslim feminists: the basic Qur'anic ethic of the sovereign right of both women and men as human beings who have the freedom of self-determination."
Rachel Woodlock, Muslim Feminists and the Veil: To veil or not to veil - is that the question? aqui.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
“é quando ele sai de mim que me começo a preocupar. recuperamos o fôlego e um dos dois começa a falar, é sempre irrelevante mas importante de perguntar, estilo como foi o dia ou como estão a ser as aulas. conversas que deviam ter tido lugar antes mas a pressa não deixou.
com o tempo, o êxtase parece cada vez mais distante e aterro, ou se calhar aterramos os dois, nunca vou saber. enrolamo-nos um no outro, hábito que ganhámos e que se deixássemos teria um significado tremendo que ninguém quer. ainda me parece o homem mais bonito do mundo, o melhor, o maior. volto a olhar e já não sei quem é, um qualquer com quem amarrotei os lençóis, mas a quem não conheço as expressões. é um ciclo vicioso, devo estar a fazer uma cara de medo porque ele reage, faz uma careta que eu não sei do que é, se de preocupação, frustração, ou se calhar de amor.
já não sei nada e tenho frio em todo o corpo. levanto-me da cama, as mãos dele vêm atrás, procurando. toca-me num lugar familiar e já saberia quem ele é outra vez, se não o olhasse na cara para perguntar, queres comer alguma coisa. o estranho com quem nada se passou não responde, faz que não com a cabeça. a minha também faz, sem saber a que responde.”
com o tempo, o êxtase parece cada vez mais distante e aterro, ou se calhar aterramos os dois, nunca vou saber. enrolamo-nos um no outro, hábito que ganhámos e que se deixássemos teria um significado tremendo que ninguém quer. ainda me parece o homem mais bonito do mundo, o melhor, o maior. volto a olhar e já não sei quem é, um qualquer com quem amarrotei os lençóis, mas a quem não conheço as expressões. é um ciclo vicioso, devo estar a fazer uma cara de medo porque ele reage, faz uma careta que eu não sei do que é, se de preocupação, frustração, ou se calhar de amor.
já não sei nada e tenho frio em todo o corpo. levanto-me da cama, as mãos dele vêm atrás, procurando. toca-me num lugar familiar e já saberia quem ele é outra vez, se não o olhasse na cara para perguntar, queres comer alguma coisa. o estranho com quem nada se passou não responde, faz que não com a cabeça. a minha também faz, sem saber a que responde.”
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
se um livro bom, genial, brilhante, ou só um de que se gosta muito, é um que nos faz tudo com novos olhos, então o discurso sobre o filho-da-puta do senhor professor (não meu) alberto pimenta entra na categoria. eu própria, que segundo leis de convenção há séculos inventadas não me deveria preocupar com a violência de tal manifesto, começo a pensar que bocados são sobre mim. talvez seja mais um inocente acaso de agregar toda a raça humana num substantivo masculino. talvez seja eu infinitamente frustrada, ou infinitamente ruim. ou talvez seja (e prefiro pensar que sim) um livro do caraças.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
nunca me souberam tão bem os fins-de-semana. esta correria de mal dormir e mal comer dá-me a volta à cabeça, aos pulmões, e mais que seja; vejo pessoas, imagino coisas e assumo costumes que desconhecia enquanto durmo; estou declaradamente de gripe, que junta ao cabeceamento ensonado que me ocupa a maioria do tempo umas potentes dores de cabeça; ao menos se pode dizer que já não padeço de bruscas mudanças de humor, visto que a alavanca está sempre no off, ou seja, no mau. venha esse sábado...
terça-feira, 21 de setembro de 2010
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