quinta-feira, 6 de maio de 2010

ao pé da entrada do meu prédio estava sempre um cão vadio que se deitava para descansar ao sol mas nunca adormecia. sempre me lembro do cão ou ao lado da caixa eléctrica ou no meio das flores do canteiro onde só quem olhasse com atenção o conseguia distinguir. olhava quem passava com olhos tristes mas nunca impunha o seu pedido de carinho. Nunca pensei nisso, mas todo aquele tempo alguém lhe deve ter levado comida, restos suficientes para o manter ali. podia abrir aspas para uma infinidade de frases repetidas sobre a importância que alguém pode ter sem o parecer, mas é mais sentido e justo dizer que o focinho dele era a única cara que me via a descer o passeio para entrar em casa, nuns dias com a expressão de quem confirma o apocalipse, noutros com os punhos cerrados a agarrar a saia com raiva dos carinhos terem sabido a pouco. houve um dia em que o cão parecia dormir e percebi que tinha morrido. no dia seguinte já não estava lá. foram passando dias em que me acostumei a não o ter sempre ali para testemunhar a gravidade dos meus amores confusos que eu teimava em assemelhar a filmes igualmente confusos mas mais bonitos. e á falta de espectador acabei por fugir, para onde por querer alguém não tivesse de subir a um palco.

3 comentários:

Anónimo disse...

confesso que isto me tocou profundamente. a sério. mesmo muito.

Anónimo disse...

Ai Joana, está tão bonito! Palavras para quê?

Anónimo disse...

sei que deixaste um comentário no meu post, mas nao consegui lê-lo, desapareceu! O.o só vi o teu nome...