terça-feira, 15 de novembro de 2011

considerações extranacionais, parte I

Há umas semanas encontrei-me com um professor para discutir a nota de um ensaio. Normalmente quando fazemos isto ele começa por me perguntar como me estou a adaptar, e o que há de empatia na maneira como ele faz a pergunta vem do que temos de entendimento entre nós enquanto dois estrangeiros em Espanha. Quer isto dizer que sinto que se lhe fosse a responder que às vezes me enerva como as pessoas não pedem desculpa por nada e falam depressa demais e as piadas de que se riem não têm piada nenhuma, provocar-lhe-ia um riso discreto mas desarmado e um acenar da cabeça compassivo como quem diz “pois é, é para isso que cá andamos”, ou até, “sacanas destes espanhóis…”. Confesso que às vezes me esqueço de que estar num país que não é o teu e onde não dominas a língua ocasionalmente produz situações frustrantes, embora facilmente antecipáveis, que fazem com que exageres na opinião que tens das pessoas com quem lidas a um ponto que não é nem correcto nem inteligente. Mas o importante desta conversa foi que respondi, um pouco sem pensar, que não era muito difícil visto que somos, nós portugueses e eles espanhóis, tão parecidos em tanta coisa. Ao que ele me responde com surpresa que o que ele via de mais evidente eram as diferenças que temos. Que acha os portugueses muito mais contidos que os seus hermanos ibéricos de uma maneira fundamental e que, enquanto alemão, se sente mais à vontade no meio dos contidos que dos explosivos. Recebi o juízo com uma perplexidade que deve ter sido visível porque quem o emitiu disse rapidamente “claro, isto são apenas generalizações”. Não fiquei de todo ofendida, mas sim surpreendida por uma ideia que nunca me teria vindo espontaneamente. Que possamos ser diferentes daqueles com quem mais nos assemelhamos, e se sim, como, e o que significa isso.

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