quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"se fôssemos, por exemplo, papa-formigas, a senhora e eu, em lugar de conversarmos um com o outro neste ângulo de bar, talvez que eu me acomodasse melhor ao seu silêncio, ás suas mãos paradas no copo, aos seus olhos de pescada de vidro boaindo algures na minha calva ou no meu umbigo, talvez que nos pudéssemos entender numa cumplicidade de trombas inquietas farejando a meias no cimento saudades de insectos que não há, talvez que nos uníssemos, a coberto do escuro, em coitos tão tristes como as noites de lisboa, quando os neptunos dos lagos se despem do lodo do seu musgo e passeiam nas praças vazias ansiosas órbitas ferrugentas. talvez que finalmente me falasse de si. talvez que atrás da sua testa de cranach exista, adormecida, uma ternura secreta pelos rinocerontes. talvez que, palpando-me, me descubra de repente unicórnio, a abrace, e você agite os braços espantados de borboleta cravada em alfinetes, pastosa de ternura [...]."

onze páginas e apaixonei-me. antónio lobo antunes, os cus de judas.

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